Famoso pela briga de uma década contra o Proalcool, ele promete agora uma virada com o Delta, carro popular custando menos de 5 000 dólares

Aos 66 anos, o engenheiro João Algusto Conrado do Amaral GURGEL gosta de lembrar seus tempos de infância, quando passava férias na fazenda do avô materno, José de Góis Conrado, nos arredores de Franca – sua cidade natal, no interior de São Paulo. Foi nas oficinas desse avô, dono de uma selaria e, depois, de uma pioneira fábrica de calçados , que GURGEL descobriu seu lado “arteiro”. Começou transformando triciclos em bicicletas, cobrando o preço de ficar com a roda restante. Muitas rodas e águas rolaram desde então. Conhecido pela sua campanha feroz que move contra o Proalcool, esse inventor nato (tem mais de 100 projetos patenteados, de um carro elétrico ao motor com suspensão pendular utilizado no Supermini) parte agora para o projeto de um carro popular, o Delta. Para isso, movimenta recursos e investidores na criação de um novo pólo automobilístico no Ceará. Terá finalmente, a ocasião de dizer a que veio. Se é mesmo um inovador e pioneiro, como o avô que semeou as fábricas de calçados em Franca, ou, segundo alguns de seus críticos, se é apenas um especialista em levantar recursos e verbas para projetos que jamais se converterão em carros circulando pelas ruas. Para falar desse e de alguns momentos de sua trajetória no mínimo polemica, GURGEL recebeu QUATRO RODAS na fábrica de Rio Claro (SP) para esta conversa.

QUATRO RODAS  – Com a GURGEL se instalando em Fortaleza, o Ceará vai se tornar o terceiro pólo da indústria automobilística brasileira?

GURGEL – {Risos} Achamos que uma fábrica para crescer precisa de apoio político, de alguns icentívos, além do baixo preço do carro, claro. A própria Fiat, quando quis entrar aqui, encontrou forte reação das montadoras instaladas, precisando procurar abrigo no governo de Minas Gerais. A Volvo foi buscar o guarda cguva do Estado do Paraná. Nosso mecado é forte no Nordeste. Por iincrível que pareça, a GURGEL sempre vendeu lá boa parte de sua produção de Jipes. Então é simples: vamos fazer um carro completamente despojado para aquela região e de acordo com seu poder aquisitivo, gerando empregos lá mesmo.

QUATRO RODAS – Houve um convite do governador Ciro Gomes?

GURGEL – O Ciro Gomes tem uma enorme vontade de fazer um governo sério, de realização. Mas fomos nós que escolhemos o Estado. E os entendimentos começaram nos tempos em que o Tasso Jereissati estava a frente do governo. As máquinas estão instaladas, o primeiro galpão construído, vamos fazer um carro bem simples para aquele mercado e uma série de veículos pequenos. Afinal, a mazda começou com um triciclo, em 1939; a Honda iniciou com com um carro de 2 cilindros, 360cm³, um Kei car. Eram os kei-jidosha, ou um minicarro com motor de até 550 cm³. Na verdade, a Honda tinha era motor de motocicleta. Assim estamos começando lá [risos].

QUATRO RODAS – A fábrica comecará a operar quando?

GURGEL – No final do próximo ano.

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